Ainda agora e sempre
o amor complacente.
De perfil de frente
com vida perene.
E se mais ausente
a cada momento
tanto mais presente
com o passar do tempo
à alma que consente
no maior silêncio
em guardá-lo dentro
da penumbra ardente
sem esquecimento
nunca para sempre
doloridamente.
x-x-x-x
Ninguém me venha dar vida ,
que estou morrendo de amor,
que estou feliz de morrer,
que não tenho mal nem dor,
que estou de sonho ferida,
que não quero me curar,
que estou deixando de ser
e não quero me encontrar,
que estou dentro de um navio
que sei que vai naufragar,
já não falo e ainda sorrio,
porque está perto de mim
o dono verde do mar
que busquei desde o começo,
e estava apenas no fim.
Corações, por que chorais?
Preparai meu arremesso
para as algas e corais.
Fim ditoso, hora feliz:
Guardai meu amor sem preço,
que só quis a quem não quis.
x-x-x-x-x-x
Um dia acordarás num quarto novo
sem saber como foste parar lá
e as vestes que acharás ao pé do leito
de tão estranhas te farão pasmar,
a janela abrirás, devagarinho:
fará nevoeiro e tu nada verás...
Hás de tocar, a medo, a campanhia
e, silenciosa, a porta se abrirá.
E um ser, que nunca viste, em um sorriso
triste, te abraçará com seu maior carinho
e há de dizer-te para o teu assombro;
- Não te assustes de mim, que sofro há tanto!
quero chorar - apenas - no teu ombro
e devorar teus olhos meu amor...
Fidelidade, Ninguém me venha dar vida e, Um dia acordarás, de Cecília Meireles, publicado pela Editora Ática, distribuído pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, com dedicatória da professora Ana Isabel Taubkin, para Camille - 2007
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