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sábado, 20 de abril de 2013

Mafalda

Fotografei do livro Mafalda - da primeira à última tira, a criação do Quino publicada pela Martins Fontes

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Meu Patrimônio!

Estava visitando a mãe e o pai e já que estava com a câmera na mão, não resisti a fotografar este trechinho do jornal que saboreamos com chimarrão, não recordo qual é o jornal, sobrou a imagem.

Chaga Histórica - do Estado de São Paulo

Ele tinha uma concepção polarizada do mundo. 
Via o mundo dividido entre amigos e inimigos, entre chavistas e pitiyanquis (simpatizantes dos americanos), entre patriotas e traidores. 
Descobri sua vocação social em livros e ensaios. Mas uma coisa é vocação social, outra a forma na qual essa vocação é praticada. Obcecado por uma admiração anacrônica pelo modelo cubano, Hugo Chávez tumultuou as instituições públicas venezuelanas, corrompeu a companhia estatal Petróleos da Venezuela S A e foi protagonista do que poderá se revelar o maior desperdício de riquezas públicas de toda história latino-americana. Mas embora os seus erros econômicos sejam de tão grande magnitude, empalidecem diante das chagas políticas e morais que infligiu ao país.
Chávez não só concentrou o poder: ele confundiu, ou melhor, fundiu sua biografia pessoal com a história venezuelana. 
Nenhuma democracia prospera onde um homem, supostamente "necessário", único e providencial reivindica a propriedade privada dos recursos públicos, das instituições públicas, do discurso público, da verdade pública.
O povo que tolera ou aplaude essa delegação absoluta de poder numa só pessoa abdica de sua liberdade e condena a si mesmo a adolescência cívica, pois essa delegação supõe a renúncia à responsabilidade sobre seu destino.
O principal prejuízo é a discórdia no interior da família venezuelana.
Nada me entristeceu mais nas visitas a Caracas (nem sequer a escalada da criminalidade ou a visível deterioração da cidade) do que o ódio dos microfones do poder contra o amplo setor da população que divergia desse poder. O ódio dos discursos, dos cartazes, dos punhos fechados, dos arrogantes porta-vozes do regime em programas de rádio e TV, das redes sociais infestadas de insultos, mentiras, teorias conspiratórias, desqualificações, preconceitos.
O ódio do fanatismo ideológico e do rancor social. O ódio surdo à razão e impermeável a tolerância. essa é a chaga histórica que o chavismo deixa. Quanto tempo levará para sanar? E poderá sanar? É um milagre que a Venezuela não tenha descambado na violência partidária e política.
Há algumas semanas com o agravamento da doença de Chávez, antecipei sua imediata santificação, como ocorreu com Evita Perón na Argentina, mas dada a tradição caudilhista da Venezuela, a sacralização de sua figura será mais profunda e permanente. Hugo Chávez conseguiu a imortalidade com que sempre sonhou.
Na alma de muitos dos seus compatriotas (e de não poucos simpatizantes na América Latina), ele compartilhará das glórias do Libertador. Até o comandante Fidel Castro poderia sentir-se relegado, vítima de um suava , porém implacável parricídio.
O que acontecerá agora, depois de sua morte? Tudo pode ocorrer, até a divisão interna do chavismo em uma ala ideológica e uma militar ou a vitória da oposição. Contudo, é provável que o sentimento de pesar, somado à gratidão que um amplo setor da população sente por Chávez, facilitem o triunfo de um candidato oficial nas eventuais eleições. para isso contribuirão os órgãos eleitorais, fiscais, judiciais e - em parte - os legislativos, que continuarão nas mãos do chavismo. Seu retrato, sua cadeira vazia, sua imagem retransmitida interminavelmente, acompanharão por muito tempo o novo presidente.
Os indicadores de alarme são de domínio público. O déficit fiscal corresponde a 20% do PIB, cerca de US$70 bilhões. O dólar cotado a pouco mais de seis bolívares, triplica no mercado negro. A inflação vem sendo, há anos, a mais elevada da região. A escassez, decorrente do desmantelamento do parque industrial, do êxodo da classe média profissional  e da falta crônica de investimentos) virou quase uma tradição venezuelana.. Há uma aguda carestia de divisas. Como explicar que um país que na era  de Chávez auferiu mais de US$800 bilhões de receitas petrolíferas apresenta contas tão alarmantes?
Boa parte da explicação está no petróleo. Em 1998, a Venezuela produzia 3,3 milhões de barris diários e exportava (e cobrava) 2,7 milhões. Agora a produção despencou para 2,4 milhões de barris diários, pelos quais cobra apenas 900 mil (os que vende aos EUA, o império odiado). O restante, que ele não cobra, divide-se assim: 800 mil vão para o consumo interno, praticamente gratuito (e que gera um polpudo negócio de exportação ilegal); 300 mil destinam-se a pagar créditos e produtos adquiridos na China; 100 mil são gastos com a importação de gasolina; e 300 mil vão para países do Caribe que pagam (quando pagam) com descontos e prazos enormes ou simbolicamente, como Cuba, que "paga" seus 100 mil barris com o envio de médicos, professores e policiais ( e se beneficia do petróleo venezuelano a ponto de reexporá-lo).
Um presidente chavista deverá enfrentar essa realidade e encarar o público. Mas esse mandatário já não será Chávez, o hipnótico, Chávez, o taumaturgo, o líder que explicava tudo, minimizava tudo. as pessoas culparão os chavistas por não estarem à altura do seu legado. Dirão: "Chávez não teria permitido isto", "Chávez teria resolvido isto". Chegado a este ponto, o próprio regime chavista talvez se convencesse da necessidade de um diálogo de negociação, que agora parece utópico. E ai se poderia abrir uma oportunidade concreta para a oposição.
Depois dos longos anos de inconsistências, omissões e erros, a oposição venezuelana mostrou-se unida, escolhendo um líder inteligente e determinado (Henrique Capriles) e teve bom desempenho nas eleições: recebeu quase sete milhões de votos. Durante a agonia de Chávez, sem deixar de levantar a voz de protesto, mostrou uma notável prudência que deve confirmar nestes dias de dor e comoção. se a oposição-  que esperou tanto - conservar a coesão e a presença de espírito, poderá avançar nas eleições legislativas, regionais e presidenciais e recuperar as posições que perdeu. Uma força latente também deverá despertar os estudantes. Eles exerceram papel fundamental no referendo de 2007 (que impediu a conversão aberta da Venezuela ao modelo cubano) e talvez voltem a exercê-lo.
Acredito que, com a morte do grande caudilho "messiânico"("Redentor" como o chamou abertamente o próprio Maduro), a Venezuela encontrará, cedo ou tarde, o caminho da concórdia: se nos quinze anos de Chávez a violência verbal não transbordou para a violência física, é razoável esperar que não explodirá agora. E a mudança poderá ser contagiosa. cuba, a Meca do redentorismo histórico, o único estado totalitário da América, poderá reformar-se, como a Rússia e a China.
Toda região poderá oscilar então, entre regimes de esquerda social-democrática e governos de economia mais aberta e liberal. e para que o trânsito seja menos acidentado, os EUa também deveriam dar sinais inéditos de sensatez, cancelando o embargo a Cuba e fechando a prisão de Guantanamo.
O século 19 latino-americano foi o século do caudilhismo militarista. O século 20 sofreu o redentorismo iluminado. ambos os séculos padeceram co os homens "necessários". Talvez no século 21 desponte um novo amanhecer plenamente democrático.

Este artigo é de autoria de Enrique Crauze, foi publicado no jornal O Estado de São Paulo, no domingo, dia 10 de março. Compartilho tardiamente porque é jornal que apanho do lixo reciclável do meu prédio, para forrar o chão para Willow, o inconveniente é que o artigo é relativamente velho, mas se é sensato não perde a validade, penso.
O Crauze, como diria o Gandra, é muito lúcido no seu comentário, mas daí a declarar que não escorreu sangue na ditadura da Venezuela? Talvez tenha esquecido as invasões e desbordamento a pau nas manifestações de dez anos atrás (pelo menos), ali se tratava de baixar a crista dos rebeldes, depois devem ter se ajoelhado, mas eu lembro que fiquei horrorizada com as fotos do caos social venezuelano da época em que pesquisei para escrever a crônica abaixo. 
E a Willow, heim? Até isso faz de bom. Levanta estas oportunidades de ponderação para nós, depois faz xixí em cima, mas esta eu salvei.

Foto: Tartaruga das Galápagos de Orelha em pé!


terça-feira, 2 de abril de 2013

Publicado em 2003 no Jornal Diário da Manhã de Erechim/RS


Declarar publicamente o que pensamos é certeza de incômodo. 
O presidente Lula o faz sem rodeios. Reafirmou que mesmo que o congresso fique contra, ele vai fazer reformas. Depois que escrevi na coluna da semana passada que acho jóia que o Presidente faça mudanças, alguns conhecidos fingiram que não me ver na rua, mas recebi alguns cumprimentos. 
Porém, a verdade, quem saberá? Talvez tenha me precipitado. 
De que reformas estará falando? 
Da reforma na previdência, espero... Meu correspondente em Frankfurt aumenta minha angústia ao comentar: "O seu presidente diz uma coisa, mas o ministro Amorim diz outra". Pergunta o que nós brasileiros pensamos da intimidade do nosso Lula com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, se percebemos que esta aproximação é indício do rumo que as coisas podem tomar na potência Brasil. Respondo que não sei, que vou ficar atenta. 
O noticiário diz que o nosso Lula é muito habilidoso, que esta avançando em conversações com o Fidel Castro e com o Hugo Chávez, dois líderes que sempre foram difíceis em diálogos. Não quero ser cega, fico na ponta dos pés, espicho o pescoço, arregalo os olhos. 
Só enxergo uma densa nuvem envolvendo o poder, o propósito é o de confundir, nos tornar uma multidão de neurastênicos, pendentes e dependentes de suas decisões, que somos, roendo as unhas, estralando os dedos e torcendo para que, apesar dos titubeios e deslizes, no final, más decisões não nos arranquem o couro. 
Cabeça entre as mãos – canseira. Sou tomada de desânimo e dúvidas. O presidente da Venezuela, apesar das críticas, pode não ser o bicho que estão pintando. Será boa companhia para nosso Lula? Abro o jornal e dizem que ele luta contra os interesses escusos que os americanos tem em seu bonito e petrolífero país. 
A Venezuela é o quarto maior exportador mundial e o terceiro maior para os Estados Unidos. Uma amiga venezuelana argumenta que o que falam de bem sobre ele é fruto de uma campanha publicitária milionária, que ele acabou com as instituições democráticas. 
Muitos venezuelanos declaram que ele é um ditador autoritário, outros dizem que ele reformou seu país, para melhor. 
Meus olhos ardem, já passa da meia noite, entre descobrir a verdade e seguir sendo assaltada por todas as dúvidas possíveis, chega a madrugada. 
A única certeza é que já não conseguirei mais fazer a caminhada matinal, talvez nem trabalhar a manhã toda, tampouco com alegria. Certamente essa cara acordará às dez da manhã, amarela, amassada, com olheiras de panda; a imagem desoladora refletida no espelho será o fruto de meus questionamentos. Igual os sofistas gregos, concluo que vivemos em um mundo estruturado para confundir. Se pegamos o caminho errado? Na chegada ao inferno, encontraremos os demônios que nos iludiram em vida, nos recebendo aos berros : -Otários, entre gargalhadas. Isso, ainda? Sem encontrar a solução para estas questões sobre as quais pondero por idealismo e nas quais os outros trabalham por dinheiro, concluo que o melhor que tenho a fazer é...pesquisar mais um pouco! 
Desenvolver ceticismo. Na net peço uma pesquisa sobre Fidel Castro. Na tela abre-se um quadro vermelhão com letras brancas, foices e pontas se chacoalham e fazem círculos. Salto fora, ouço a voz da minha mãe entranhada em meu subconsciente me mandando dormir.- Mãe...estou fazendo a minha parte, preciso analisar a questão para fazer escolhas sensatas. 
A mãe, prática, responde: - Você se desgasta à toa, quer morrer cedo? Quem se interessa em tornar este mundo sensato? Você ouviu hoje mesmo na voz do Brasil, que o neto do senador mais criticado do país, foi eleito deputado, dando assim, seqüência à oligarquia familiar? Desliga isso e vai dormir! Amanhã tens que trabalhar no quadro para o concurso, passar no banco, falar com a Têre, procurar as notas fiscais do rádio que estragou, entregar o vídeo na locadora, não te basta? 
Desligo o computador e me deito vestindo o blusão de lã de lhama. Em Erechim estamos a 700 m acima do nível do mar, noite fria de bater queixo. Antes de adormecer tento recordar onde foi que li que na Venezuela, em 11 de abril de 2002, durante uma gigantesca marcha de protesto na qual as pessoas pediam a renúncia do presidente Hugo Chávez, e protestavam contra o fechamento de cinco estações de tv pela alegação de abuso da liberdade de expressão, a multidão foi debandada a tiros. 
Dezenove pessoas morreram e oitenta e oito ficaram feridas. 
Isso é real ou pesadelo? 
Vou escrever uma carta pedindo ao nosso Lula que seja mais pragmático em seus discursos, que se afaste deste menino...o Hugo Chávez... e que não esqueça de escovar os dentes antes de dormir...


Crônica que escrevi publicada na minha coluna no Jornal Diário da Manhã - Erechim RS, em 28/06/2003
Foto: Tartaruga Preocupada das Galápagos