Além dos hormônios, outras substâncias que afetam o sistema nervoso parecem influenciar a geração dos impulsos maternos.
Em 1980, Alan R. Gintzler, da Universidade Estadual de Nova York, observou aumento das endorfinas - proteínas analgésicas produzidas pela glândula pituritária e pela região cerebral conhecida como hipotálamo - durante a gestação de ratas, especialmente nos momentos que antecedem o nascimento. Além de preparar a mãe para o desconforto do parto, as endorfinas podem dar início ao comportamento maternal. Juntos, os dados demonstram que a regulação desse comportamento requer a coordenação de muitos sistemas hormonais e neuroquímicos, e que o cérebro feminino reage de maneira perfeita as mudanças.
Na identificação das regiões do cérebro que governam o comportamento materno, Michael Numan e Marylin Numan,do Boston College, mostraram que parte do hipotálamo no cérebro feminino, a área preóptica medial (mPOA), é em grande parte responsável por essa atividade:lesionar a mPOA ou injetar morfina nesse local perturba o comportamento caracterísrtico das mães ratas. Mas outras áreas também estão envolvidas, todas repletas de receptores de hormônios e outros neuroquímicos. O célebre neurocientista Paul McLean, do Instituto Nacional da Sáude Mental dos EUA, propôs que as vias neurais que vão do tálamo, a central distribuidora do cérebro, até o córtex cingulado, que regula as emoções, são parte importante do sistema de comportamento maternal. Dano ao córtex cingulado das mães ratas também o eliminam.
É interessante observar também que, quando os hormônios reprodutivos dão início a reação maternal, a dependência que o cérebro tem deles parece diminuir, e a prole por si só causa o estimulo.
Embora um mamífero recém-nascido seja uma criaturinha muito exigente e pouco atraente em muitos aspectos - cheira mal, é dependente demais e só dorme de forma intermitente - a devoção da mãe é mais motivada de todas exibições animais, mais até do que o sexo ou a alimetação. Joan I. Moreell, da Universidade Rutgers, sugeriu que a própria prole possa ser a recompensa:
"Quando pode escolher entre cocaína e ratinhos recém nascidos,uma mãe rata escolhe os ratinhos."
Craig Ferris, da Faculdade de Medicina da Universidade de Massachusetts, há pouco estudou o cérebro de mães ratas lactantes com imageamento por ressonância magnética funcional(fMRI).
Descobriu que a atividade do nucleus accumbens, região que integra o sistema de estímulo e recompensa, aumentava significativamente quando a mãe cuidava de seus filhotes. E Ronald J. Gandelman, da Rutgers, mostrou que quando uma mãe camundongo recebia a oportunidade de receber filhotes adotivos - ao pressionar uma alavanca, faz bebês escorregarem por uma rampa - "Ela aperta a alavanca até encher a gaiola com essas coisinhas rosadas."
Vários pesquisadores teorizam que, quando os filhotes lactantes abocanham os mamilos maternos, podem liberar pequenas quantidades de endorfinas. Esses analgésicos naturais podem agir como um ópiaceo, fazendo com que a mãe procure por mais e mais contato com seus filhotes. A amamentação é o contato também liberam o hôrmonio oxitocina, que pode ter um efeito similar. Espécies inferiores de mamíferos, como ratos e camundongos, que não têm os princípios e motivações dos seres humanos, podem tomar conta de seus filhotes simplesmente por isso os faz se sentir bem.
Mas e as motivações da mãe humana? Jeffrey P. Lorberbaum, da Universidade Médica da Carolina do Sul, usou fMRI para examinar o cérebro delas quando ouviam seus bebês chorando. Os padrões de atividade foram semelhantes aos das mães roedoras - a região mPOA do hipotálamo e os córtices pre-frontal e orbitofrontal acenderam. Além disso, Andreas Bartels e Semir Zeki, da University College de Londres, descobriram que as áreas cerebrais que regulam a recompensa eram ativadas até mesmo quando as mães humanas simplesmente olhavam para os filhos. A semelhança entre as reações de pessoas e roedores sugere a existência de um circuito maternal no cérebro dos mamíferos.
Para entender o funcionamento desse circuito, estudou-se como o cérebro feminino se modifica em diferentes estágios reprodutivos. Na década de 1970, Marian C. Diamond, da Universidade de Claifórnia em Berkeley, encontrou algumas das primeiras evidências ao estudar o córtex de ratas prenhes. A camada mas externa do cérebro recebe e processa informação sensorial e também controla os movimentos voluntários. Ratos criados em ambientes sensoriais mais ricos, cercados de rodas, túneis e brinquedos, geralmente desenvolvem córtices enrugados de forma mais complexa do que ratos criados em gaiolas sem nada. Diamond, no entanto, descobriu que o córtex de ratas prenhes de ambientes pobres era tão complexo quanto o das companheiras de ambientes ricos.
Duas décadas mais tarde, depois que estudos demonstraram a importância da mPOA no comportamento maternal, começou-se a procurar mudanças naquela região específica do cérebro. Em meados da década de 1990, Lori keyser, do laboratório de Kinsley na Universidade de Richmond, demonstrou que os corpos celulares dos neurônios da mPOA em ratas prenhas aumentam de volume. Mais: a extensão e o número de dendritos nos neurônios da mPOA aumentam a medida que a gestação progride. O mesmo foi observado nos neurônios mPOA em meio a cultura tratados com progesterona e estradiol, o mais poderoso dos estrógenos naturais. Essas alterações neuronais em geral acompanham um aumento na síntese e atividade das proteínas. Em essência, os hormônios da gravidez "turbinam" os neurônios da mPOA em antecipação ao parto e ás demandas da maternidade. Depois do nascimento, os neurônios da mPOA dirigem a atenção da mãe para a prole, capacitando-a a cuidar dos filhotes, alimetá-los e protege-los, fazendo uso do conjunto de ações conhecidos coletivamente como comportamento maternal.
Mas com esse comportamento abrange variás facetas além do cuidado direto dos pequenos,ocorreu-nos que outras regiões do cérebro também podem passar por mudanças. Por exemplo, uma mãe rata precisa correr riscos para manter o ninho e os filhos.Com frequência, é necessário sair para procurar comida, tornando-se ela mesma e seus filhotes, mais vulneráveis a predadores. Podemos prever duas mudanças cognitivas que melhorariam a relação custo-beneficio para elas. Primeiro um aumento na capacidade de procurar comida - por exemplo, em sua habilidade espacial - minimizaria o tempo fora do ninho. Segundo, uma redução do medo e da ansiedade tornariam o ato de sair mais fácil, permitindo que a mãe procurasse comida mais rápido e se fortalecesse para possíveis confrontos.
Em 1999 encontramos evidências da primeira previsão ao mostrar que a experiência reprodutiva aprimorou o aprendizado espacial e a memória dos ratos. Fêmeas jovens que tinham passado por uma ou duas gestações eram muito melhores do que virgens da mesma idade em localizar comida em dois tipos diferentes de labirinto: um radial de oito braços e uma versão de terra firme do labirinto de Morris, grande cercado circular com nove buracos com iscas. Maior habilidade para procurar alimento foi observada tanto em fêmeas lactantes quanto em mães cujos filhos adotivos tiveram desempenho semelhante ao de lactantes. Esse resultado sugere que a simples presença das crias pode melhorar a memória espacial, talvez ao estimular atividades cerebrais que alteram as estruturas neuronais ou provocar secreção de oxitocina.
Em um trabalho recente das alunas de graduação Naomi Hester, Natalie Karp e Angela Otrhmeyer, no laboratório de Kinsley, mostrou que as mães ratas são mais rápidas do que as virgens na captura de presas.
Ratas virgens com fome foram colocadas em um cervado de cerva de 0,5 m², onde um grilo foi escondido. As virgens levaram em média 270 segundos para achar o inseto e comê-lo, comparando a pouco mais de 50 segundos no caso das lactantes. Mesmo quando as virgens estavam famintas ou quando o som do grilo era mascarado, as mães ratas obtiveram sua presa com mais facilidade.
No que diz respeito a segunda previsão, Inga Neumann, da Universidade de Regensburg na Alemanha, documentou várias vezes que ratas prenhes e lactantes têm menos medo e ansiedade(medidos pelo nível de hormônios de stress no sangue) do que as outras quando confrontadas com desafios como natação forçada.
Jennifer Wartella, então no laboratório de Kinsley, ampliou esses resultados ao examinar o comportamento de animais no cercado de 0,5 m ²: mães tem tendência maior a explorar o espaço e menor a ficar paralisadas, duas marcas registradas de coragem. Além disso, descobrimos uma redução de atividade neuronal na região CA3 no hipocampo e da amígdala basolateral, que regulam o stress, aliada ao aumento de da capacidade espacial, assegura que a mãe rata consiga deixar a segurança do ninho, buscar comida com eficiência e voltar para casa com rapidez para tomar conta de seus indefesos filhotes.
Alterações no hipocampo, que regula a memoria e o aprendizado, bem como as emoções, parecem desempenhar papel fundamental nesse processo. Trabalho fascinante de Catherine Woolley e Bruce McEwen, da Universidade Rockefeller, mostrou variações de fluxo e refluxo na região CA1 do hipocampo durante o estro de uma fêmea de camundongo(o equivalente em humanos ao ciclo menstrual). A densidade dos espinhos dendríticos - pequenas projeções que fornecem mais área para a recepção de sinais nervosos - aumentava nessa região á medida que os níveis de estrógeno subiam. Se as flutuações hormonais relativamente breves do estro produziram mudanças estruturais tão notáveis, nos perguntamos o que aconteceria com o hipocampo durante a gravidez, quando os níveis de estrógeno e progesterona permanecem altos por um longo período.
Graciela Stafisso-Sandoz, Regina Trainer e Pricy Quadros, pesquisadoras do laboratório de Kinsley, examinaram o cérebro de ratas nos estágios mais avançados da gestação, bem como fêmeas tratadas com hormônios, e descobriram que a concentração de espinhos dendíticos na área CA1 era maior do que o normal. uma vez que essas projeções dirigem os impulsos para os neurõnios a elas associados, o aumento em sua densidade pode contribuir para maior habilidade das mães em se orientar em labirintos e capturar presas.A oxitocina, hormônio que dispara as comtrações do parto e da lactação, também parece ter efeitos no hipocampo. Kazuhito Tomizawa e colegas da Universidade de Okayama, Japão, relataram que a oxitocina promove o estabelecimento de conexões de longa duração entre os neurônios no hipocampo. Injeções de oxitocinas no cérebro de camundongos fêmeas virgens aprimoraram sua memória de longo prazo, presumivelmente por meio do aumento da atividade enzimática que fortalece as conexões neurais. Pela mesma lógica, injeção de inibidores de oxitocina no cérebro de mães ratas prejudicou seu desempenho em tarefas que exigiam memória.
Fragmento de texto extraído da revista Scientific American. Autores: Craig Howard e Kelly G Lambert, que passaram as duas últimas décadas investigando os efeitos da gravidez e da maternidade no cérebro feminino. Kinsley é professor de neurociência da Universidade de Richmond. Lambert é professora de neurociência comportamental e psicologia, chefe do departamento de psicologia e co-diretora do Escritório de Pesquisa de Graduação na Faculdade Randolph-Macon.
O homem não precisaria extirpar respostas contidas nos animais, se tomasse atitudes seguindo a voz de sua alma imperecível...penso...Recebi as frases abaixo de Tânia/Grupo Mahavydia:
"Virá o dia em que a matança de um animal será considerada crime tanto quanto o assassinato de um homem." (Leonardo da Vinci)"Não me interessa nenhuma religião cujos princípios não melhoram nem tomam em consideração as condições dos animais." (Abraham Lincoln)
"A força é o direito dos animais." (Cícero)
"A natureza delicia-se na comida mais simples. Todos os animais, exceto o homem, comem um só prato." (Joseph Addison)
"Aquele que conhece verdadeiramente os animais é por isso mesmo capaz de compreender plenamente o caráter único do homem." (Konrad Lorenz)
"A grandeza de uma nação pode ser julgada pelo modo que seus animais são tratados." (Mahatma Gandhi)
"A compaixão pelos animais está intimamente ligada a bondade de caráter, e pode ser seguramente afirmado que quem é cruel com os animais não pode ser um bom homem." (Arthur Schopenhauer)
"O animal selvagem e cruel não é aquele que está atrás das grades. É o que está na frente delas." (Axel Munthe)
"Enquanto o homem continuar a ser destruidor impiedoso dos seres animados dos planos inferiores, não conhecerá a saúde nem a paz. Enquanto os homens massacrarem os animais, eles se matarão uns aos outros. Aquele que semeia a morte e o sofrimento não pode colher a alegria e o amor." (Pitágoras)
"Não podemos ver a beleza essencial de um animal enjaulado, apenas a sombra de sua beleza perdida." (Julia Allen Field)
"Primeiro foi necessário civilizar o homem em relação ao próprio homem. Agora é necessário civilizar o homem em relação a natureza e aos animais." (Victor Hugo)
"O animal é tão ou mais sábio do que o homem: conhece a medida da sua necessidade, enquanto o homem a ignora." (Demócrito)
"A vida é valor absoluto. Não existe vida menor ou maior, inferior ou superior. Engana-se quem mata ou subjuga um animal por julgá-lo um ser inferior. Diante da consciência que abriga a essência da vida, o crime é o mesmo." (Olympia Salete)
E no link, um vídeo que se explica no final - filhotes e banho
(presente lindo recebido de Anabela de Araújo):
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