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segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

O Presidente Jimmy Carter - um caso de amor


Eu era bem moça, tinha de oito a onze anos e percebi que estava nua na rua, muito longe da minha casa. Ao constatar, somente eu percebia e tentava andar o mais rápido possível em direção a um endereço onde poderia me resguardar, mas aos poucos os transeuntes também começaram a perceber. Eu me escondia entre as casas e prédios. Para piorar, uma gangue de homens de aparência malvada começou a me perseguir. 
Apesar da vulnerabilidade eu tinha sorte, pois eles eram lentos. Às vezes via um deles a um quarteirão de distância, ele me avistava e vinha em minha direção, então tinha que perder mais do precioso tempo escondendo-me. Ao voltar a correr mais gente despertava e via que eu estava nua.
Entrei em uma rua onde não havia adultos, somente um grupo de crianças brincado, fiz o que pude para me acalmar e não assustá-los, precisava de uma muda de roupa emprestada. Uma menina me emprestou-me uma saia enorme e branca - era o que podia emprestar! A vestimenta pareceu piorar a minha nudez, uma saia grita por blusa. Sentia que aparentar ter sofrido violência, ter sido despojada da blusa era mais vexatório do que ter saído correndo de uma casa que desapareceu, para não desaparecer com ela, nua depois do banho.
A voz de uma pessoa adulta chamou a menina que me emprestava a saia e ela pediu-a de volta e tive que correr novamente, desta vez a rua das crianças terminava em um trilho e eu sabia que o abrigo que eu buscava estava lá, no final daquele trilho, entrei e galinhas com formatos estranhos me observavam sérias. 
Enfrentaria perigo. 
Estava determinada a alcançar o outro lado do terreno escarpado. Quando chegava ao muro que almejava, vi os homens mal encarados de braços cruzados me aguardando. Fiz o caminho de volta e ao entrar na rua movimentada novamente, vi um carro de polícia que passava, ponderei que a situação era horrível, mas era melhor enfrentar os olhares dos policiais e pedir socorro. Certamente me recolheriam ao carro e me dariam agasalho, mas alguém gritou de um prédio: 
- Correr nua na rua é crime, é atentado ao pudor, eles vão te prender!
Agora eu tinha que me esconder da polícia e dos homens maus e não sabia mais para onde voltar.
Foi este meu lindo sonho da noite passada, após confessar pela primeira vez e em público, que o presidente Jimmy Carter foi meu primeiro amor, uma paixão aos seis anos de idade, conforme escrevi antes de ir dormir, em um comentário público no facebook.
E minha mãe não teve qualquer influência, nem sei se alguma vez o viu no Jornal Nacional naquela época, que vivia entre preparar o jantar e organizar tudo para assistir a novela das oito. Minha mãe chamava todos os homens com qualquer posto de autoridade de "velho", tenho certeza de nunca ter dado pela existência do presidente Jimmy Carter e das complicações políticas nas quais estava envolvido no pior emprego do mundo.
Acho que Jimmy Carter era só meu, era admirável e tranquilo - quem poderia dizer que um dia não nos conheceríamos e casaríamos?
Ninguém, uma vez que ninguém soube que para mim ele existia e era meu primeiro e duradouro amor.
O que fazer? 
É a vida. 
Quanto a Dona Rosalynn? Ah, certamente acharia bárbaro, seu esposo, Jimmy, casar-se com alguém tão especial como eu. Era o que eu pensava. Tudo ok.
Não sei, tomei tanto cuidado para que ninguém nunca soubesse que nem mesmo aqui pesquisei o histórico dele, será que um dia teve seis anos, o presidente Jimmy Carter? 
Seja como for, não me interessava o menino Jimmy, mas sim ajudar e conversar com Carter "o velho", como diria minha mãe. Mas provavelmente ele deve ter sido o Brad Pitt dos presidentes. Perceptiva que sou, positiva e sonhadora, via seu melhor ângulo e rezava para que fizesse tudo certo para o Cid Moreira falar boas coisas sobre ele quando o anunciava em seus pronunciamentos. 
Nada de alarde ou escândalo, nem admito sequer que menciones fantasias sexuais infantis! Sei melhor que ninguém o que ia na minha mente: eu pensava que cresceria como sabia que pessoas crescem, nos casaríamos e eu seria uma mui respeitável esposa, não tencionava entrar em seu gabinete aos seis anos enrolada em um tapete - tal como Freud bem gostaria de maliciar - e para apressar minha formação em conhecimentos gerais, passava as tardes a operar pacientes no hospital que eu mantinha nos fundos da minha casa; gestantes abacates que pariam bebês caroços através das cesareanas muito bem feitas por mim. 
Mas este é o assunto de outra crônica, uma que escrevi há alguns anos: 
"A menina que gostava de todas as cores."

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