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domingo, 19 de novembro de 2017

Elevadores

Há muitos anos atrás, a Rainha Elizabeth e o Príncipe Philip se casaram, neste dia. Precisamente há setenta anos. 
A celebração foi familiar e o reino foi inundado pelo  repicar dos sinos da Abadia de Westminster, onde a Rainha e o Duque de Edimburgo se casaram, o reino também lançara seis selos em homenagem à comemoração.
Há alguns anos eu visitava meus pais em novo Hamburgo, e, pretendendo vir morar mais perto deles, me dirigi, acompanhada pela minha mãe, a Fundação Cultural de Novo Hamburgo. Visava sondar o calendário de eventos e ver se haveria possibilidade de colocar-me profissionalmente na cidade. 
Ao entrarmos no prédio que ficava na região central da cidade, nos dirigimos ao elevador e entramos acompanhados por mais três pessoas. O elevador comportaria mais quatro pessoas comodamente. Isso ocorreu há muitos anos, portanto não me recordo exatamente em que andar os problemas começaram, mas seguramente era acima do quinto. 
O elevador subitamente parou entre andares e no espaço de alguns minutos despencava com vontade e baque alguns 20 a 40 centímetros, balançando e parando até recomeçar o terrível movimento que efetuou um desnivelamento com a pequena sala ficando levemente inclinada para um lado.
E segue a descida aos solavancos até que pareceu estabilizar em um ponto entre andares, com os de dentro gritando e os de fora também. 
Havia uma fresta na parte superior da porta que nos permitia ver o piso de um andar, e então, após despencar mais um tanto, pareceu que o movimento cessaria e alguém enfiou um guarda-chuvas entre a fresta da porta arregaçando-a e pedindo calma, que os bombeiros já estavam chegando para nos resgatar, havia uma abertura de aproximadamente 60 centímetros de altura na parte superior da porta, e ninguém teve sangue frio o suficiente para esperar os bombeiros, com grande risco de morte, um após outro demos as mãos para os de fora e fomos içados como se pesássemos apenas gramas.
Ao recordar-me, sempre concluo que não deveríamos ter saído, são muitos os relatos de pessoas cortadas ao meio tentando escapar pela fresta entre andares quando o elevador não havia alcançado seu movimento final e cai rapidamente. 
Ao recordar-me penso que ali houve uma espécie de sinal, talvez divino, porque depois desta experiência e copos d'água com açúcar, não me interessei mais tanto em entrosar-me na Secretaria de Cultura, só queríamos sair dali, sair o mais rápido possível, ganhar a rua e ver as pombas ajuizadas caminhando tropegas na praça dos arredores. Só desejávamos chão firme, tarde, sol e nada e compromisso com aquele prédio.
Nunca mais voltei lá. Ao recordar-me penso que se houvesse uma pessoa a mais, talvez o pistão ou engrenagem responsável pela frenagem aos trancos  não fosse capaz de nos segurar, talvez fosse aí que ocorresse o acidente fatal, ao alcançarmos a fresta. Nunca saberemos. Foi tudo na medida certa para que aqueles que ali estavam permanecessem vivos.
Tenho meditado e sofrido imenso pelas notícias da saída da Inglaterra da União Européia. 
Estava tomando banho para me recolher lembrando do post equivocado que dava conta de que hoje seria o aniversário de Coroação da Rainha Elizabeth ll e na verdade não é aniversário tampouco da Coroação da Rainha Elizabeth I! E então foi inevitável pensar na possibilidade da Inglaterra deixar de integrar o bloco da União Européia. 
As informações dão conta de que o Reino não concorda com a acolhida que os refugiados vêm tendo por parte do Bloco, ou melhor, não desejam abrir as portas da mesma forma que o restante da Europa tem feito, aos já milhões de pessoas sem nada, que, fugindo dos problemas políticos e das guerras, da pobreza e desolação das tiranias, encontrou a rota felicidade em barcos sobrecarregados rumo a Europa...
Muitos barcos têm afundado, muitas vidas perdidas nesta aventura de ir sem lenço nem documento lutar por um espacinho no civilizado mundo europeu.
E se eu escrever sobre um elevador: a Inglaterra, que não aceita mais carregar ninguém porque sabe que não suportará e deixará de poder garantir qualquer coisa a seus súditos se proporcionar acolhida a novos habitantes que ainda assim nem aceitam comportarem-se como súditos?
E se os dirigentes da União Européia entenderem que tem que conceder a liberdade aos seus países integrantes de decidirem por conta e de forma autônoma quantas pessoas podem aceitar para ajudar e abrigar de forma permanente? Não será a mais coerente das decisões?
Não, jamais, nunca se deve empurrar gente sobrecarregando um sistema, um elevador ou país, sob pena de ele entrar em pane e até deixar de existir após um colapso que pode ser fatal para os ocupantes anteriores e para os novatos. Os novatos que chegam nestas condições não têm o que perder a não ser a vida e esta eles já demostraram que estão dispostos a arriscar pela saída e travessia que têm assumido ao saírem de seus infernos particulares. Fechar-lhes as portas pode parecer cruel, mas é apenas racional estando a ocupação máxima já está alcançada. 
As organizações internacionais têm condições e o dever de remanejar os imigrantes humanitariamente e sugerir novo destino e fornecer-lhes os meios, e o país que se nega a receber deve envolver-se e comprometer-se neste programa através do compartilhamento de despesas inerentes a uma operação essencial. Temos visto países que fazem um corredor por onde o refugiado passa estando em seu território, e a imagem não é bonita. Mas não é bonito o caos de um país desgovernado pela má administração dos recursos.  E a verdade é bonita, ela vem a dar em uma solução coerente e neste caso, inovadora.
Neste momento, no mundo, há muitos lugares recebendo investimento e necessitando avidamente de mão de obra; que eu saiba, certas regiões da África querem desenvolvimento e compensam com riqueza rápida, que eu saiba, onde houver região se desenvolvendo haverá chances de recomeço, porque vamos para a Inglaterra? Porque é um bonito reino e ficamos elegantes de cachecol no inverno com neve? Mas vamos para morder uma fatia da torta pronta, vamos para privar do excesso de riqueza da Europa, esta senhora ricaça cheia de jóias que poderá nos olhar como a órfãos e se apiedar de nós.
Sim, pode ser, mas não é o caso da Inglaterra.
Ela não nos quer. Não nos deseja e é um reino pequeno, rico e apegado demais a sua riqueza, é deles, violar é ilegal e é uma espécie de estupro a soberania.
Vamos para os Estados Unidos? Não parece estar nos querendo e o tratamento que despende aos lindeiros mexicanos mostra as dificuldades para nos instalarmos lá. Para onde vamos?
Acho que teremos que ir para onde nos aceitem e onde haja espaço para nós e os nossos, senão...não seria melhor dar um jeito nos nossos países bagunçados conquanto não estivermos em guerra? 
O que está faltando no mundo? 
Que o país rico que não pode aceitar aos pobres assuma a responsabilidade de conhecer seu destino, de encarregar comissão de importar-se pelo seu destino, mesmo sem poder acolher. Que não renegue a descendência dos que lhes foram úteis na ancestral fundação, que não dê-lhes as costas. Antes deve dar-lhe nova direção, a perspectiva da possibilidade de uma nova etapa assistida até o final da  jornada. Sejamos fraternos, que os outros deixem nossa presença com a recordação de ter encontrado um representante do Senhor a indicar-lhe por entre as pedras, um oásis.
Isso não é fácil mas jamais impossível.
Está faltando a União Européia ter mais voz ativa com os criadores de encrenca nos países pobres, "fornecedores de gente". 
Está faltando os senhores do mundo conscientizarem-se de que estamos vendo quem provoca caos, quem ameaça e aniquila os que não fogem. Hoje sabemos quem fornece armas, quem tem interesse na guerra. Qualquer um sabe, se senta na frente do computador e pesquisa por meia hora geopolítica.
Os senhores do mundo sabem como deter o fluxo de refugiados, ou aos senhores do mundo interessa que os elevadores da Europa, abarrotados, caiam?

Foto: Matt Halyoak

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