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terça-feira, 23 de agosto de 2016

A Rua do Mijo

Sai de casa para assistir o filme sobre Steve Jobs que estreara na cidade. era domingo, um domingo calminho, Os filhos em paz após o almoço com sua cartela de vídeos japoneses e eu resolvi ir assistir um filme sozinha, no cinema, sozinha. Se isso é comum para a maioria, não é para mim. Toda avida adulta, mãe de crianças pequenas, ou enxergando mal ou com óculos inadaptados, testando lentes ou me preparando para transplantes de córneas, depois me recuperando, depois perdendo a viso novamente, e agora, correndo atrás dela novamente. Não sou o tipo que põe o pé no trânsito para dar ponto sem nó.
É imprescindível que eu vá, não consigo resolver tudo por aqui? 
Nunca me expliquei muto sobre meu modo de levar a vida porque ninguém tem a obrigação de ouvir minúcias sobre a doença ocular que sou portadora, o ceratocone. Não sinto prazer em falar sobre, não gosto de ser identificada como deficiente visual, vou levando, com janelas de excelente visão e maior mobilidade, visão somente suficiente para o dia a dia,  que é minha rotina e vamos em frente.
Saí de casa naquele domingo, sozinha e orgulhosa da minha independência, passava Jobs no cinema!
Jobs morreu sem concluir algo muito superior ao que já estava público, tinha uma missão auto-imposta e faltou tempo. 
Não esperava ver explicitado um esboço do projeto de Jobs em um filme feito sobre sua vida em que ele é interpretado por Ashton Kutcher. Eu desejava  poder deduzir algo. Algo que tivesse passado pela produção do filme como apenas uma frase de efeito dita por ele.
Cheguei ao shopping, me dirigi ao cinema e levei aquele corte clássico de quando fura um balão de momento perfeito, parece ter sido planejado com um golpe pessoal: não havia mais lugar no filme, entradas esgotadas inclusive para a sessão do anoitecer. 
E quem tencionaria em ficar à noite, sozinha na rua?
Não eu, certamente. Não por uma sessão de cinema!
Havia um filme começando e me joguei nele, "Gente Grande 2", comédia, disse a moça, é bom, o pessoal está comentando que é bom. Muni-me de pipoca, refrigerante e entrei quando a primeira cena se desenrolava. Alguma baixaria, aquilo que é considerado hilário aos americanos, um alce mijando na cara do personagem principal interpretado por Adam Sandler. 
Mas não estou reclamando, o que não é engraçado para mim, deixo passar, mas ri a valer com cenas de
diversão pura, que brincam com os adultos encontrando ex-colegas de infância, ex- namoradas, e valentões praticantes de bulling da sua adolescência. 
Passei toda vida adulta educando, nunca gostei que meus filhos vissem o que não fosse aceitável para mim. E hoje me arrependeria muto disso se não tivesse a certeza de assistiram o que  curiosidade mandou quando não estive presente, como todos jovens fazem. 
Estou falando da inclusão crescente de brincadeiras como as dos filmes de Jack Black, a maioria barra pesada, porcalhona e boca suja. 
Minha filha, porém, me confrontou adotando Jack Black como um dos seus ídolos, teve uma fase, boca suja, brigamos muito, mas o tempo passou e ela voltou ao equilíbrio. 
Como educadora nata me coloco na obrigação de entender e buscar aprender o máximo e aceitar facetas de outras culturas...jamais? Jamais diga jamais, diz o jargão popular. E outro diz, em Roma faça como os romanos. E em alguns momentos faça ou pode se dar muito mal, um mal do tipo irreparável, compreende?
Nossa! sai do cinema como entrei, não pesquei nada de Jobs, mas sai tão bem, eu sou flexível, ah, isso não tem preço. Parecer ser, entende? Na hora agá sempre poderei desistir de ser flexível, mas não posso viver arreliada por me ver como covarde e  limitada.
E me fui com meus bebês para o Rio de Janeiro, três ou quatro dias de flexibilidade, sabendo que poderia ser uma chance única. Fomos guiados por uma prima  carioca da gema e batemos perna a profusão na cidade maravilhosa. 
Até o dia em que deixando as pernas irem por conta própria, conversando e demos por nós no lugar mais fedido do universo, eu queria mostrar-lhe um skate motorizado que vira no dia anteriro naquelas imediações e entramos na rua ardente: "Me desculpe, não devíamos ter vindo por aqui, essa é a rua do xixi. Ninguém conseguiu mudar esse hábito dos praianos, a orla só oferece banheiros para consumidores e o carioca tradicionalmente caminha essa quadra do mar até aqui e usa paredes, árvores e calçadas como mictório."
Simmm, maaass...desejei argumentar, mas rimos, Joseph fechou o nariz com o polegar e o indicador. Rimos e apressamos o passo, ainda bem que no Rio de Janeiro ninguém nos obrigou a fazer como os cariocas. 
Desejei saber porque a administração não distribuía banheiros na orla, era Copacabana, Jesus!!
Nossa amiga disse que foi ficando, que tentaram algumas ações rígidas no início,e no decorrer do tempo,insípidas e finalmente infrutíferas, a rua é paralela à Avenida Copacabana e ali é os fundos dos hotéis e prédios, é por ali que sai o lixo, é ali que o pessoal vem discretamente e... 
Naquele sábado pela manhã, dum julho considerado inverno, no entanto, não testemunhamos ninguém "vindo". 
Havia somente o cheiro de mijo histórico ardendo nas narinas.
O Rio é fantástico, é lindo, tenho elogiado noite e dia depois daquela visita, mas ao saber da polêmica com os nadadores americanos fiquei perplexa. 
Coitados, ensinaram errado aos gringos, fizeram uma pegadinha com eles, mandaram mijar na rua errada?
E eles, atletas recém saídos de universidades ou cursando, vai ver que quiseram bancar ingleses e fazer como os do Bullingdon Club de Oxford, saíram Jack Blackeando por ai. 
Foi uma noite insólita, anexa-se como um episódio clássico do cancioneiro caipira brasileiro, uma pegadinha cá, uma sacanagenzinha ali, e a rapaziada bêbada até não poder mais resolve reclamar de ter sido rendida de revolver na cabeça, bêbados, fazendo queixa de assalto. 
E o Brasil, bem preparado para lidar com jovens, bem educado para gerir crises de choque cultural, não que precisasse, afinal nem estava sediando uma Olimpíada, o evento esportivo planetário... 
Está certo não aceitar passar indevidamente por assaltante, mas está certo não administrar um porre internacional num encontro em que a maioria dos participantes são jovens e ainda mais - visitantes!? Aproveitar-se do episódio de descontrole dos rapazes para auto-promoção, criar uma indisposição internacional não parece atitude sóbria, nem muito menos neutra de um bom anfitrião. 
Afinal, houve revólver apontado ou não?
E fazer uso da rua do mijo é prerrogativa nacional, apenas? O taxista tão atento, poderia ter levado os rapazes ao lugar correto, ou não?
Fica aquele quê de desforra em momento tremendamente impróprio, fica aquela vergonha alheia por não haver profissional intermediador capacitado naquele caso que manchou a carreira do nadador. É culpa dele sim, o descontrole, a raiva e vontade de retaliar, a confusão, a bebedeira, mas se estamos tão ditadores de normas, vamos averiguar se nas famílias dos acusadores e exigidores de retratação pública há jovens que tenham passado pelas mesmas experiências após o uso de alcool.
Qualquer brasileiro ou brasileira, pai ou mãe, ficaria imensamente perplexo se seu filho fosse rendido por arma por causar confusão alcoolizado. 
O Brasil não é um antro, mas no Brasil existem muitos antros, é um momento político nevrálgico e ainda assim as Olimpíadas aconteceram razoavelmente bem. 
Devemos levar em conta que o maior incidente foi esta baderna entre seguranças despreparados e atletas embebedados, sem bombas nem sequestros.
apenas a carreira do moço, destruída.


  

 
 

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