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terça-feira, 25 de abril de 2017

Do livro Colóquios com Mussolini, escrito por Emílio Ludwig



Há alguns anos, adquiri um livro autografado pelo autor, de uma edição de 1932 - Colóquios com Mussolini, escrito por Emílio Ludwig. Li-o em 2003 e releio-o aos trancos novamente, aos trechos. 
Preciso entender Mussolini por mim mesma, onde estão suas verdades e suas fraquezas, julgando-o conforme o tempo em que esteve em destaque. Mas não preciso ter pressa nisso, é apenas um fragmento de um mosaico que tento recompor para mim mesma e ora compartilho devido a raridade do material desprezado como vulgo e barato, que encontrei em um cesto de promoção por centavos em um sebo em Porto Alegre. 
Como toda figura histórica importante e controvertida, apresenta ele ideias excelentes incrustradas de preconceitos e técnicas psicológicas duvidosas para lidar com os homens do seu tempo, dizer que se estivesse entre homens mais desenvolvidos poderia ter obtido o sucesso almenjado é uma inverdade. Concluir que se tivesse dirigido seu povo em um momento histórico anterior, e teria podido perdurar, é também insustentável. Resta-me olhar para suas palavras como para uma obra cuja técnica superamos, mas que ainda assim é uma edificação que retrata a época em que foi erigida. É preciso que eu assuma que conheço muito pouco sobre a história dele e dos seus aliados, além do que me foi ensinado superficialmente na escola. E é preciso explicar muito bem explicadinho, uma vez que já sofri desdém por lê-lo na privacidade do lar da primeira vez, por parte de uma cunhada doutro país que recebi em longa visita. 
O livro veio repleto de fotografias, assim que eu esteja melhor do resfriado sem precendentes que me derrubou neste último final de semana, procurarei reproduzir alguma para ilustrar este compartilhamento, que por enquanto leva a foto de uma das minhas criações em óleo sobre tela. Seu título é Não tenho medo, neste caso, de refletir e estimular a reflexão sobre um assunto polêmico. Procurei por imagens de Mussolini na NET e o que vi foi muitas fotos da violação dos cadáveres dele e da sua esposa. Escabroso!
Então achei interessante compartilhar este trecho que transcrevo para que o julguemos conforme ele se reserva o direito de julgar o cristianismo e a Igreja, após o trecho que narra sua tentativa frustrada de aproximar-se da Igreja e praticar a combinação ideal 'Estado livre Igreja livre', devido contendas severas com os jesuitas:
"Eis-me numa posição difícil, porque aqui o ponto de vista histórico é diverso do religioso. Os romanos eram 'beatis et fortis'.  Tornaram-se mais tarde, débeis e ignorantes. 'Os últimos serão os primeiros.' Revolta dos escravos. Naturalmente Nietzsche tem razão.
E, após um suspiro imperceptível e uma breve pausa, continuou:
-Mas, considerando o todo, as vantagens excederram os inconvenientes. Em certo sentido o influxo do cristianismo foi útil; uma fase de progresso na história da humanidade.
-Por um equívoco de dogma, objetei eu.
-É provável, replicou ele com calma; econtinuou, como em solilóquio, a aprofundar o assunto. Todavia Pedro foi apenas uma espécie de propagandista. Com S. Paulo, porém, aqui aportou o verdadeiro fundador da igreja cristã.  É singular!  Epístolas admiráveis.  Significativa transformação do povo hebráico. Até 69 ou 70 da nossa era, o judaismo se resumia a Jerusalén, Alexandria e Salônica.  Depois sobreveio a dispersão e a nova doutrina passa aos romanos e aos pagãos.  Ninguém sabe como, em determinado momento, os judeus se tenham negado a reconhecer Jesus Cristo.  Interroguei um rabino, não me respondeu. É estranho, um fato primeiro torna-se lenda, depois, heresia. Sempre sucede assim.  Se o cristinismo não chegasse à Roma imperial, nunca passaria de uma seita judaica. Esta é a minha íntima convicção.  Cumpre acrescentar que tudo fora preparado pela Providência.  Primeiro o império, depois o nascimento de Jesus, por fim a chegada de Paulo que, após a longa tempestade, arriba a Malta.  Sim, tudo fôra predestinado por uma Providência que dirige todas as cousas.
Nesse instante Mussolini se me revelou sob um novo aspecto.  De nenhum lugar ou episódio da História ele se interessou tanto como em Roma.  Considera-se um fragmento da história romana, o que explica a expressão do pensamento contido na última frase.
Abstive-me de lhe interromper as reflexões, enquanto ele não tornoua erguer a cabeça e a olhar-me mais amigavelmente, à espera de outra pergunta.
-Goethe e depois Mommsen, recomecei eu, falaram de uma idea universal, que mais tarde se corporificou em Roma.
-Por isso, replicou ele, já noutro tom mais lógico, talvez por isso fosse preferível para a história alemã, que Armínio tivesse perdido a batalha da floresta de Teotoburgo. Creio que foi Kipling quem escreveu "os povos que não passaram pela civilização de Roma assemelham-se a rapazes que não frequentaram a escola'.
-Mas hoje, atalhi eu, como pode ainda hoje pensar em fazer de Roma o centro do mundo?
-Entendo apenas que ela sempre o será, porque conta a maior história. Jerusalém e Roma. Que é o resto no pé delas?
_pronunciado por lábios mui significativos, observei eu, ouvi, em tal sentido, este dito romano: 'Foi Luthero quem perdeu a guerra!'
E abstive-me de nomear o autor da minha citação a fim de não infuenciar o meu interlocutor. 
-Interessante! Quem lho disse?
-O Papa Bento XV.
-Esse...foi sobretudo um grande Papa, tonrou Mussolini.
-Pela Páscoa achei os templos de Roma cheios de fiéis.  Assim era também na Rússia, até há pouco tempo. E agora, após um decênio, as igrejas russas estão desertas.
-Crê o senhor na continuação da fé?
- Se considerarmos a Espanha, replicou o Duce, devemos reconhecer que a crença atravessa uma profunda crise. Ali também, outrora, as igrejas regorgitavam.  Ha, ainda hoje, religiosidade, porém mais superficial do que substancial. Cumpre, entretanto, dizer que, em certas natureazas a guerra e a cise fortificam ou originam o sentimento religioso. Algumas individualidades oficiais e até um príncipe alemão acabam de se converter à religião.
Nas massas esta tornou-se um hábito.
-Recentemente o senhor ressaltou Cesar, mas colocou acima dele Jesus Cristo.
Não me enganei?
- Cesar tem o segundo lugar, confirmou o Duce, convencido. Jesus é o maior.
Pense bem: iniciar um movimento que durará dois mil anos! Quatrocentos milhões de adeptos e, entre estes, poetas e filósofos!
Este exemplo viverá eternamente.  E daqui se irradiou.  O que admira, porém, é que, justamente os imperadores mais humanos tenham persseguido mais cruelmente os cristãos."

Na introdução do livro, página 13, o autor escreve:
"...Assim também a individualidade de Mussolini me atraia além dos partidos e das circinstâncias que ele combate o tratado de Versailles, mas italianiza o Tirol meridional. 
Desprezando o dilema que agita atualmente, o coração dos facístas alemães, entreguei-me como artista, a contemplação de uma extraordinária personalidade.
Tal me pareceu Mussolini desde o primeiro encontro.  Quando o Capital comeava a hoostilizá-lo e a sua provocadora política exterior esmorecia, aproximei-me dele.
Em março de 1929, concedeu-me o Duce, duas entrevistas.  Mais tarde tornei a vê-lo e a cada novo encontro, preparav-me e levava-o para as questões decisivas em que residia nossa dissidência: Liberdade e Pacifismo. Deste modo esclarecemos as diferenças e dissenssões entre a ortodoxia facista e as concepções do fundador, diferenças a que todo grande movimento está sujeito. Fortifiquei-me, igualmente na convicção de que , na análise hisórica, as declarações verbais têm mais significação do que as escritas.
...
O tema era volubilidade e elevação.  Nenhuma solenidade, nenhuma presença de secretário entre nós, nenhum prévio compromisso nem sequer o da apresentação do manuscrito. Tudo se conservou nos moldes de uma conversação confidencial."

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