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segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

A professora - Arquipélago Gulag - A tomada do Brasil pelos mediocres úteis

Em Arquipelago Gulag, livro de Alexandre Soljenitsin escreve apresentando seu livro: 
"Foi com o coração oprimido que me abstive, durante anos, de publicar este livro, já há muito concluído; o dever perante os vivos prevalecia sobre o dever perante os mortos. Agora, porém, que as forças de segurança do Estado dele se apoderaram, nada mais me resta a fazer senão publicá-lo imediatamente.
Setembro de 1973
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Considerva-se, é certo, que toos eram presos e julgados, ao que parece, não peo seu credo, mas por manifestarem convicções em voz alta e por darem uma educação às crianças nesse espírito. Como escreveu Tánia Khoodkévitch:
         Podes orar livremente,
         Mas... de modo que só
         Deus te escute.
(Por esse verso ela foi condenada a dez anos.) As pessoas convictas de possuirem a verdade espiritual deveriam ocultá-la dos...filhos!!!  A educação religiosa das crianças, nos anos 20, passou a ser qualificada como um delito abrangido pelo artigo 50-10, isto é, como agitação contra-revulocionaria!
É certo que no tribunal havia ainda a possibilidade de abjurar da religião. Embora não fosse frequente, casos havia em que o pai abjurava e permancia para criar os filhos, enquanto a mãe ia para Solóvki (durante todas essas décadas as mulheres revelaram uma grande firmeza e convicção). Todas as religiosas pegavam dez anos, que era até então a condenação mais longa.

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A particularidade desta nova torrente do ouro consiste em que todos esses infelizes não são acusadospela GPU propriamente de nada, estando esta disposta a enviá-los ao país do Gulag, desejando apenas arrancar-lhe o ouro pelo direito do mais forte. É por isso que os cárceres estão repletos e os comissários instrutores extenuados, as expedições, as prisões de trânsito e os campos de concentração recebem um reforço propriamente menor.
'Quem é preso nesta corrente do ouro?' Todos aqueles que, alguma vez, noos últimos quinze anos, tiveram algum negócio, comércio, ou trabalharam por sua conta, podendo ter guardado ouro, segundo pensa a GPU. Mas, justamente, acontecia com muita frequência que eles não tinham ouro algum: os seus bens, móveis e imóveis, tudo se derretera, tudo fora confiscado pela Revolução, nada mais restando. Com enorme esperança são detidos, naturalmente, os joalheiros e relojoeiros.
Atraavés da denúncia, pode-se ter conhecimento da existência d ouro nas mãos mais inesperadas: um operário típico, não se sabe como, conseguiu arranjar e guardar sessenta moedas de ouro de cinco rublos cada, dos tempos czaristas; o conhecido guerrilheiro siberiano, Muraviov chegou a Odessa trazendo consigo uma blsinha de ouro; os cocheiros de cavalo tártaros de Leningrado, todos eles têm ouro escondido.  Se isso é verdade ou não, só é possível esclarecê-lo na prisão.  e já não pode servir de atenuante nem a condição de operário, nem os méritos revolucionários daquele sobre quem caiu a sombra da denúncia do ouro. Todos ssão detidos, metidos em celas da GPU, em quantidades que até hoje pareciam impossíveis - mas assim é melhor, masi depressa o hão de dar! Chega-se até à promiscuidade de pôr mulheres e homes nas mesmas celas, fazendo as suas necessidades uns diante dos outros num balde.  Quem repara nessas bagatelas! Para c´´a o ouro, vilões! Os comissários instrutores não redigem processos verbais, porque esses papéis não são precisos para nada, e se vão condená-los ou não, isso pouco importa a quem quer que seja. O importante é isto: para ca o ouro, malvado! O Estado necessita de ouro, e a você, para quê lhe serve? Os comissários instrutores, por fim, não têm mais garganta nem forças para proferir ameaças e aplicar torturas, mas há um procedimento geral: servir nas celas apenas comida salgada e não dar água aos presos. Só aqueles que entregarem o ouro é que bebem água! Dez rublos por um copo de água.
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Calcula-se que uma quarta parte da população de Leningrado foi limpa em 1934-35.
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Nestas espraiadas torrentes, que inundavam tudo, perdiam-se sempre modestos e invariáveiis riachos que não se precipitavam com estrépito, mas iam fluindo, fluindo, fluindo sem fim:
- os austríacos membros do Shcutzbund que perderam as lutas de classe em Viena e vieram, para slavar-se, refugiar-se na pátria do proletariado mundial.
- os esperantistas (essa gente nociva, que dizimada por Stálin nos mesmos anos em que Hitler o fazia);
- os fragmentos que restavam da Sociedade Filosófica Independente, dos círculos de filosfia ilegais;
- os professores que discordavam do ensino avançado pelo método das brigadas de laboratórios. (em 1933 Natália Ivanovna Bugaienko foi detida pela GPU de Rostov, mas ao fim do terceiro mês de instrução do processo houve uma resolução declarando este método era vicioso e ela foi libertada).
- os colaboradores da Cruz Vermelha Política, que graças aos esforços de Ekaterina Péschkova* ainda defendia o direito à sua existência;
- os montanheses do Cáucaso setentrional, insurgidos em 1935; as nacionalidades continuam a fluir, vindo de um extremo ou outro do país(na construção do canal do Volga publicam-se jornais nacionais em quatro idiomas: tártaro, turcomeno, usbeque e casaque, Há, pois, quem leia!).
- e de novo os crentes que não querem trabalhar aos domingos (tinha sido instituída a semana de cinco dias**; os kolkhozianos eram sabotadores, ao não trabalharem nos dias de festas religiosas, como estavam habituados nos tempos de trabalho individual;
- ainda, sempre que se negavam a ser informantes da NKVD 9 aqui eram abrangidos os padres que guardavam o segredo da confissão: os 'Órgãos compreenderam rapidamente quão inútil seria para eles saberem o conteúdo das confissões, a única coisa para que servia a religião);
- as seitas religiosas que são detidas cada vez em maior número;
- e a Grande Paciência dos socialistas continua a mudar as cartas.
Finalmente havia a torrente do Décimo Parágrafo, que não foi mencionado uma só vez, mas que flui constantemente, intitulada aliás KRA (Aitação Contra-Revolucionária), ou ainda ASA (Agitação Anti-Soviética).  Tlvez aeja ela a mais estável de todas, pois não estancou nunca, e nos períodos das outras grandes torrentes, como nos anos de 37, 45 ou 49, cresceu mesmo em vagas particularmente caudalosas/25/.
*Esposa de Máxim Górki.(N do T)
**Era uma semana de cinco dias de trabalho, repousando-se o sexto, independentemente do dia da semana.N do T)
/25/ Essa torrente atingia qualquer pessoa a qualquer instante. Mas, para os intelectuais conhecidos, nos anos 30, cozinhava-se  às vezes algum delito inflamente, como o de homossexual; por exemplo, o Prof. Pletniev, ao ficar a sós com as pacientes, mordê-las-ia nos seios. Isso era escrito num jornal central. Que exerimentasse refutá-lo (N do T).
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É possível que a mania da espionagem não fosse só uma estreiteza mental de Stálin.  Ela tornou-se cômoda para quantos desfrutaram de privilégios. Passou a ser justificação natural da política do segredo, que já amadurecia, da proibição da informação, do sistema da porta fechada, da posse das propriedades vedadas e dos centros secretos de distribuição. O povo não podia penetrar através das defesas blindadas da mania de espionagem, nem observar  como a burocracia se arranjava para errar, comer e divertir-se.
Misturando dois livros e um relato numa publicação que não tem o compromisso de ser curtinha, mesmo, indico e procurarei ler também A tomada do Brasil pelos maus brasileiros, de Percival Pugina, e aproveito para mencionar um dos episódios mais tristes que vivi com um dos professores dos meus filhos: 
Inscreveu ela sua turma em um projeto internacional de realização de animação na técnica de stop moution. Minha filha e a colega, sua melhor amiga, lançaram-se no projeto e passaram muitas horas vagas e finais de semana do que foi o prazo para a realização do projeto, desenvolvendo os personagens em massa de modelar, o roteiro e as sessões fotográficas em minha casa. 
Motivo de orgulho e prazer para a mãe artista que sempre carregou consigo os filhos para os cursos, palestras e seminários que frequentou.
Clara e Camille trabalharam muito, realizaram e desmancharam o roteiro varias vezes. Experimentaram e desenolveram cenários e aprenderam trabalhando no seu tempo. Quando o prazo se esgotou, com certo stress, apuraram a história e entregaram o material ao colega do grupo, o Rodrigo, que responsabilizou-se pela edição de imagens. Algumas vezes tiveram as meninas que refazer cenas e tomar cuidados especiais com iluminação para alcançar o rígido padrão desejado pelo Rodrigo. 
A finalização da inserção de legendas foi entregue a outra componente do grupo, que até ali não participara. Ela o fez sua parte e a professora levou a animação para julgamento e ele ficou entre os três projetos brasileiros selecionados em escolas públicas nacionalmente. 
O passo seguinte foi a exibição e entrega da premiação com a presença de representantes da organização do Concurso vindas de Brasília e da empresa internacional patrocinante. A próxima, seria a etapa internacional. 
Mas a menina que fez a legendagem foi apresentada pela rofessora como autora do projeto e representante do grupo. Minha filha questionou, a colega de produção questionou e a professora enfesou-se, ligou-me certa noite para dar-me um "arrocha" para que eu pressionasse as meninas a enquadrarem-se. Isso é contra minha postura independente de meus fuilhos estarem envolvidos e disse isso a ela: a questão de autoria intelctual não pode deixar de ser respeitada com citação dos autores reais.
Ela deixou cair a peteca: "A moça que fez a legendagem é pobre, é esforçada. A mãe da menina passara por apertos financeiros, era uma trabalhadora". 
Lembrei-me do aluguel que eu pagava religiosamente todos os meses, dos bicos insuficientes que eu fazia nas madrugadas de cenografia para teatro, insuficientes mesmo para arcar com a alimentação da minha família, o quanto eu tentava me virar para todos os lados para que meu trabalho artistico obtivesse reconhecimento e de como eu era tachada de burguesa que não precisa disso pois é loira tem aspecto de elite, de "a hora de pessoas como você, acabou", doia-me o contrato da última renegociação de empréstimo envolvendo mais de quarenta por cento da minha pensão junto ao banco...e minha filha não valia tanto quanto a da mulher que tinha a aparência correta para o sistema que a professora representava, iria apossar-se publicamente da autoria intelctual do projeto da minha filha? Contei com paciência e delicadamente para a professora sobre a trajetória de estímulo à arte da Camille. Mencionei que nos meus cursos de formação os critérios de autoria são sempre pilares nos discursos dos mestres e ela iniciou um discurso tendencioso de que então minha filha era uma predestinada?! Vai ver que estava marcada para fazer sucesso?! Instei-a a analisar a postura e super-produção em desenhos da minha filha, a evidência entre os colegas, inclusive como profesora de desenho em estilo mangá de alguns deles, de sua inequívoca postura artistica, tão sua aluna quanto a outra.
Mas não houve mais diálogo, ou a moça da legendagem assumia ou nada feito, "fosse qual fosse o grupo que garantiria o sucesso da minha filha".
Padrinhos? Passávamos por uma crise financeira imensa, eu não conseguia trabalho, as portas eram fechadas.
A condenação num sistema em que a cidadania é concedida pelos comissários professores é feroz. Dentro em breve eu sofri violência física em um posto de saúde em um exame ginecológico intimidada por três pessoas durante a ocorrência, ameaças de estupro por parte de advogados representantes da rede bancária que me instara a fazer empréstimos e reengociações embora eu não tivesse garantias na contrapartida, e finalmente, fui diagnosticada com câncer e encaminhada para tratamento quimioterápico e cirurgia no hospital A. C. Camargo, em São Paulo.

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