Na mesma página (36), noutro parágrafo:
O Presidente (Nixon) fazia comentários depreciativos sobre Kissinger com Haig, queixando-se da paranoia e da excessiva preocupação "do Professor" com sua própria imagem. Particularmente, pedira que Haig o informasse a respeito do trabalho de Kissinger, e o general atendera o pedido. Uma situação difícil, muitas vezes insustentável.
Na página 44:
Naquela manhã, Bull teve que subir com as fitas das conversas de Dean com o Presidente em fevereiro, março e abril. Com base em registros das reuniões e ligações telefônicas do Presidente, Bull ligou para Ray Zumvalt, supervisor do Serviço Secreto, e pediu os rolos desejados. Depois anotou os trechos e marcou cada fita. Ainda que conhecesse bem as vozes, Bull teve dificuldades para encontrar as conversas procuradas, sepultadas como estavam em horas de fitas em grandes rolos.
Ás 10h15 da manhã, levou a primeira fita ao Presidente e explicou-lhe como operar o gravador:
-O senhor aperte o botão play quando estiver pronto para ouvir. Solte o botão stop quando acabar, ou quando quiser parar a máquina. E se o senhor desejar voltar a fita ou repetir um trecho, aperte o botão stop e depois o botão rewind. Entendido? O senhor compreendeu?
O Presidente não tinha quase nenhuma habilidade mecânica, nem possuía boa coordenação física. Depois de quatro anos distribuindo lembranças na Casa Branca - abotoaduras, prendedores de gravata, canetas e bolas de golfe, Nixon ainda precisava de ajuda para abrir as caixas de papelão. Bull estava habituado a dar esta ajuda. Certa vez o Presidente convocou-o para abrir um vidro de pílulas antialérgicas, com o qual lutava há algum tempo. Era aquele tipo de embalagem feito para crianças não abrirem, com instruções que diziam "aperte para baixo e gire".
A tampa tinha marcas de dentes. Nixon evidentemente tentara removê-la a dentadas.
Tratamos aqui do Presidente dos Estados Unidos da América, Richard Nixon, que foi eleito para tal cargo. Estou lendo o livro Os Últimos Dias do Presidente, escrito pelos jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein, cujo "brilhante trabalho de pesquisa jornalística conferiu ao jornal Washigton Post, o Prêmio Pulitzer".
Neste livro os autores, entrevistando exaustivamente a maioria dos envolvidos, e com acesso a documentação do caso que foi chamado Watergate, esmiuçam o processo que levou a renúncia de Nixon. O livro com 453 páginas, foi publicado no Brasil pela Editora Vozes, adquiri-o recentemente em um sebo na Avenida São João, em São Paulo.
Devido ao pressuposto inequívoco valor do conteúdo, comprei-o embalado em plástico, vedado.
Tive uma grande surpresa ao abrir a embalagem, ainda no metrô, ao verificar que estava bastante danificado; suas páginas ganharam comentários e anotações a caneta e lápis em idioma inglês, não bastando esta liberdade de interferência, o dono anterior perfurou os rodapés em maços, várias páginas com perfurações distintas, como um código secreto de marcação em máscara. Não satisfeito, provavelmente após a leitura, abriu com lâmina extremamente afiada e potente, cortes transversais nas páginas centrais. Ao adquirir o documento, eu não suspeitei nem de longe que provocasse tantas emoções. E provoca. O caso do proprietário anterior pode ser de um aprendiz de português inconformado com as incongruências linguísticas, o meu é a crescente desconfiança.
Pois então o Presidente Nixon consumia antialérgicos?
Vejamos alguns efeitos colaterais de um dos mais suaves antialérgicos modernos, não os cavalares primitivos do final dos anos sessenta que Nixon consumia:
-Se usado nas dose recomendadas não apresenta propriedades sedativas clinicamente significativas.
-As reações adversas reportadas comumente incluem fadiga, cefaléia, sonolência, nervosismo, boca seca, transtornos gastrintestinais, tais como, náusea e gastrite e também sintomas alérgicos semelhantes a exantema.
-Reações adversas como alopecia, anafilaxia e função hepática anormal são reportadas raramente.
A contra-indicação do consumo concomitante de bebidas alcoólicas é clássica e pontencializa as propriedades do medicamento.
Richard Nixon foi eleito em 1968. Sua presidência andava bem. Estava conseguindo cumprir as metas de campanha: reconciliação internacional e apaziguamento dos conflitos internos. Conseguiu terminar o combate no Vietnã e melhorar sensivelmente as relações com a URSS e com a China.
Foi em sua gestão que em 1969, os astronautas americanos fizeram o seu primeiros pouso na Lua.
Tinha um projeto voltado ao meio ambiente, partilha de receitas ao final dos projetos e dava atenção especial a fortificação da lei anti-crime.
Até que foi envolvido no Watergate.
Richard Nixon nasceu na California em 1913, foi um estudante nota dez e sua carreira política transcorreu da mesma forma, sem sobressaltos, até o Watergate.
Em 08 de agosto de 1974, Nixon renunciou a presidência, ele disse que renunciava
para que se começasse o processo de cura que é tão desesperadamente necessário nos Estados Unidos.
Põe-se um homem no ponto central da política mundial cercado de uma assessoria que sabe do pote de antialérgico e é incapaz de facilitar-lhe logisticamente a desenvoltura para que possa cuidar do que é de todos?
Uma assessoria que declara minúcias como esta é uma assessoria que expõe vulnerabilidades ao invés de reforçar os pontos fortes.
A sociedade que não sabe o que quer e se compraz em devorar o bolo alimentar vomitado por focas ávidas de prêmios sensacionais não esta a altura de julgar as ações de um homem ilibado cujo maior delito foi não derrubar completamente a estrutura que havia e formar outra.
Mas não é isso que se espera de um líder democrático, é que se instale e faça seu melhor, o melhor por todos, sinto que Nixon tentou, mas que não veio para derrubar tudo e reconstruir, que lidava com os fatos reais e trabalhava.
Levando em conta que as características individuais que estão gritando neste caso, o desamparo ao qual foi jogado no primeiro dedo hipócrita e traidor que se lhe apontou, é o foco central do meu questionamento.
Ainda bem que fatos como os relatados nas duas páginas que extraí do livro não foram suprimidos, pois foram os únicos argumentos favoráveis ao homem Nixon durante todas as 453 páginas.
Ainda que tenham sido publicadas para aumentar o desdém a figura em questão.
Em 1977, Nixon concede uma entrevista longa dividida em sessões, ao jornalista David Frost. Um Nixon se recuperando de flebite a às voltas com o alcoolismo é a farta vítima que o jornalista inglês em baixa popularidade precisava para fazer uma re estréia em grande estilo, todos duvidavam que acontecesse, mas Nixon foi, e David Frost o conduziu de forma dramática a assumir o envolvimento no Watergate.
Não havia dúvidas quanto ao resultado, os colegas de Frost comentam que ele é rápido e ardiloso, que passou os meses que antecederam a entrevista, se preparando para encurralar o presidente, que acabou confessando na TV, que estava ciente de irregularidades a sua volta...mas que...quem se importa?
Era somente isso que a perfeição queria ouvir.
No filme de ficção científica Minority Report, o personagem de Tom Cruise, John Anderton, é um policial que trabalha desvendando crimes com o auxílio de três pessoas com paranormalidade. Ao saber que seria injustamente acusado, Tom/John não confiando no sistema para o qual trabalha, foge buscando solucionar por conta própria o esquema, tentando se livrar das terríveis consequências do crime previsto. É um dos melhores filmes que já assisti. O Bordão do experiente detetive John/Tom, torna-se um ponto de questionamento filosófico intenso, ele repete: Na hora, todo mundo corre...todo mundo corre.
Richard Nixon não correu, apesar de vítima do sistema, confiou na justiça, agiu na justiça, e sua "permanência" fica mais explicita quando decide dar a entrevista ao demônio Frost.
A estes que liquidamos injustamente, postumamente chamamos mártires, não?
Nomes citados nos parágrafos que extrai do livro Os Últimos Dias:
Bull: Stephen Bull, assessor pessoal do Presidente
Dean Burch: Conselheiro político do Presidente (que o denunciou)
Haig: Gen. Alexander M Haig. JR.- Chefe da Casa Civil da Presidência
No site sobre os Presidentes americanos, mantido pela Casa Branca, sobre Richard Nixon está também escrito: "Algumas de suas realizações mais aclamadas vieram de sua busca pela estabilidade mundial. Durante as visitas, em 1972, a Pequim e Moscou, ele reduziu as tensões com a China e a URSS.
Suas reuniões de cúpula com o líder russo Leonid Brezhnev I, produziram um tratado para limitar as armas nucleares estratégicas.
Em janeiro de 1973, ele anunciou um acordo com o Vietnã do Norte para acabar com o envolvimento americano na Indochina.
Em 1974, seu secretário de Estado, Henry Kissinger, negociou acordos de separação de forças entre Israel e seus adversários, o Egito e a Síria."
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