Em cada gota do seu sangue havia alma bastante para fazer um herói; mas com essa alma forte, que doçura divina se misturava!
A união profunda do heroísmo e do amor, da vontade e da inteligência, do eterno Masculino com o Eterno Feminino, fazem dele a flor do ideal humano. Toda a sua moral, cuja palavra última é o amor fraternal sem limites, a liança universal humana deriva naturalmente desta grande individualidade.
O trabalho dos dezoito séculos decorridos após a sua morte teve por resultado o fazer penetrar esse ideal na consciência de todos, porque não há homem no mundo civilizado que dela não possua uma noção mais ou menos clara. Pode-se, pois, afirmar que o templo moral ambicionado por Cristo não está concluído, mas fundado sobre bases indestrutíveis na humanidade atual.
Não sucede outro tanto com o templo social. Este supõe o estabelecimento do reino de Deus ou da lei providencial nas instituições orgânicas da humanidade, e, por isso, falta inteiramente contruí-lo porque a humanidade vive ainda num estado de guerra, sob a lei da força e do destino. A lei de Cristo que reina na consciência moral, não passou ainda às instituições. Só incidentemente me referi às questões de organização social e política, neste livro destinado a esclarecer a questão filosófica e religiosa, por algumas das essenciais verdades esotéricas e pela vida dos grandes iniciados. Não será portanto agora, que estou a concluir que me ocuparei mais largamente delas, tanto que sendo mais matéria muito vasta e complexa, ela escapa tanto a minha competência que nem sequer ensaio a defini-la em algumas linhas. Apenas direi isso. A guerra social existe como princípio em todos países europeus, porque não há princípios econômicos, sociais e religiosos que sejam admitidos por todas as classes da sociedade. Igualmente, as nações europeias não têm cessado de viver entre si em estado de guerra, aberta ou de paz armada, porque nenhum princípio federativo comum as liga legalmente. Os seus interesses e suas aspirações comuns não têm recurso para nenhuma autoridade reconhecida, nem encontram sanção em nenhum tribunal supremo.
Se a lei de Cristo penetrou nas consciências individuais e até uma certa medida na vida social, é ainda a lei pagã e bárbara que governa as nossas instituições políticas.
Atualmente o poder político é constituído em toda parte sobre bases insuficientes, porque por uma parte emana do pretendido direito divino dos reis, que não é outro, senão a força militar, e por outra, do sufrágio universal, que não passa do instinto das massas ou da inteligência não selecionada.
Uma nação não é um número de valores indistintos ou de cifras adicionadas. É antes um ser vivo composto de órgãos. enquanto a representação nacional não for a imagem deste organismo, desde as suas classes laboriosas até as suas classes educadoras, não haverá representação nacional orgânica e inteligente.
Enquanto os delegados de todos os corpos científicos e de todas as igrejas cristãs não se reunirem num conselho superior, as nossa sociedades serão governadas pelo instinto, pela paixão e pela força e não haverá o templo social.
Do que provém, pois, que acima da Igreja, muito pequena para o conter inteiramente, da Política que o nega, e da Ciência que ainda o não compreende senão a meias, estar Cristo hoje mais vivo do que nunca?
Da sua moral sublime ser o corolário de uma ciência ainda mais sublime. De a humanidade só agora começar a pressentir o alcance da sua obra, a grandeza da sua promessa. De por detrás dele nós vermos ao lado e para além de Moisés toda antiga teosofia dos iniciados da Índia, do Egito e da Grécia, da qual ele é a confirmação fulgurante.
Nós começamos a compreender que Jesus tinha uma consciência muito mais elevada do seu papel; que o Cristo transfigurado abre seus braços amorosos a seus irmãos, aos outros messias que o precederam e que como ele foram raios do verbo vivo que os abre inteiramente à Ciência integral, à Arte Divina e a Vida completa. Porém a sua promessa não pode cumprir-se sem o concurso de todas as forças vivas da humanidade.
extraído do livro "Jesus" - volume da Série Grandes Iniciados, escrito por Édouard Schuré.
Estou lendo a publicação da Martin Claret de 1987
Schuré escreveu Jesus em 1889.
Foto: Yeshua- pintei em 2000
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